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Marcos Nogueira

Carne de sol caseira no Jesuíno Brilhante, restaurante nordestino ótimo e barato em SP


Porco de sol, feijão de corda e cuscuz

"A comida aqui é caseira", me disse Rodrigo Levino assim que eu entrei em restaurante. Soou como um aviso cauteloso do tipo "não espere demais", mas funcionou ao in verso, aumentando minhas expectativas.

Rodrigo tem algumas coisas em comum comigo. Primeiro, usa barba como eu. Depois, é jornalista – e não apenas isso, ele me sucedeu no cargo de editor de gastronomia na revista VIP. Mas o que interessa para este post é a obsessão do Levino em buscar a comida mais autêntica possível, fugindo de quaisquer acochambrações: ingredientes meia-boca, métodos que pulam etapas importantes, enfim, qualquer atalho que sacrifique a qualidade em busca de facilidade e baixo custo.

Há alguns meses, ele fez o que todo jornalista sensato tem feito nestes tempos: abandonou a redação e se dedicou integralmente a um projeto autoral. O resultado é o pequeno restaurante Jesuíno Brilhante, uma operação familiar que serve comida do sertão nordestino como ninguém em São Paulo – e, ouso dizer, provavelmente muito difícil de se achar no Nordeste.

Pode-se argumentar que o Mocotó, do grande Rodrigo Oliveira, também faz isso. Verdade inquestionável. Mas há uma diferença fundamental: são dois estilos distintos de comida, o que não tem nada a ver com as origens dos dois Rodrigos (Levino é portiguar, e Oliveira tem raízes pernambucanas). Enquanto o Mocotó segue a tradição das estalagens, dos botecos de beira de estrada e das casas do norte que acolhem sertanejos expatriados no Sudeste, as refeições do Jesuíno Brilhante são caseiras nos sentidos figurado e literal. Ao primeiro olhar, reproduzem o que se encontra nos lares sertanejos. Uma observação um pouco menos superficial revela aquilo que se torna óbvio depois de algum tempo: aquilo é um lar sertanejo transplantado para a hipsterlândia de Pinheiros.

O traço mais evidente dessa alma caseira é o fato de que a carne de sol é preparada lá mesmo, às terças e quintas, pelo pai de Rodrigo, seu João Batista. Ele veio de Caicó, Rio Grande do Norte, para ajudar o filho na empreitada. Carnes de sol, aliás. Porque, além da carne bovina, seu Batista prepara um excelente porco de sol (como o da foto no alto deste post). Já xavequei o Levino e em breve farei um post ensinando a fazer as duas.

A mistura (que pode ser carne de sol na chapa, carne de sol desfiada com nata, paçoca de carne de sol, porco de sol ou um guisado que varia diariamente) vem em um prato combinado, chamado bornal, com dois acompanhamentos (a escolher entre arroz branco, arroz vermelho no leite, feijão de corda, cuscuz e macaxeira cozida). Os preços, muito simpáticos, vão de R$ 20 a R$ 27. Não esqueça de turbinar a comida com as excelentes pimentas caseiras da P de Pimentas, do pernambucano Pedro Reis (foto acima).

Não saia sem experimentar uma sobremesa (releve o clichê, porque ele foi escrito por alguém que não faz a mínima questão de sobremesa). A burra preta, na foto acima, é um pão de melado e especiarias, embebido em café e coberto por nata e mais melado. Delicioso e diferente de que qualquer noção preconcebida que se possa ter da comida do sertão nordestino. Aliás, preciso viajar para o Sertão do Seridó e checar se o pessoal come tão bem assim. Duvido muito. São Paulo roubou de lá uma família que cozinha bem pra caramba, apesar da modéstia com que recebe seus convidados.

Jesuíno Brilhante

Rua Arruda Alvim, 180, São Paulo

Segunda a sábado, 12h às 15h

(11) 2649-3612

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