Onde comer e beber bem na Disney
Este é um post esdrúxulo, tenho plena noção. Falar da Disney não estaria entre minhas prioridades caso eu não tivesse acabado de voltar de uma viagem para lá – fui como acompanhante da minha mulher, que ganhou uma press trip para dois, paga pela própria Valdisnei Company. Ficamos quatro dias, nós e o filhote de 3 anos, confinados dentro dos limites da propriedade da Disney em Orlando. Nesse tempo, fiz todas as refeições por lá e posso dizer: dá para comer e beber muito bem. Fiquei muito surpreso, positivamente, pois sempre ouvi falar que o reino encantado de Mickey Mouse era uma espécie de túmulo da gastronomia. Se já foi um dia, agora não é mais.
A Walt Disney World Resort é um colosso impressionante. Ocupa um terreno de 110 km², mais do que as áreas somadas das subprefeituras paulistanas da Lapa, de Pinheiros e da Sé. O complexo tem 27 hotéis próprios, nove hotéis de outras marcas, um shopping a céu aberto que simula o centro de uma cidade, dois parques aquáticos e quatro parques temáticos: o Magic Kingdom (onde fica o castelo da Cinderela), o Epcot, o Hollywood Studios e o Animal Kingdom. Dentro de seus limites, você tem a impressão de circular por uma espécie de cidade-estado. Não se percebe nenhum sinal de presença do poder público por lá: tudo, da segurança à manutenção e sinalização das estradas, é feito por gente contratada pela Disney. Por outro lado, não existe nada mais americano do que a Disney World.
Nesse país de faz-de-conta, é claro, existe oferta quase ilimitada de comida ruim: coxas de peru grotescas, pipoca aromatizada, restaurantes de grandes redes que servem refeições marromenos, pretzels com o formato da cabeça do Mickey... Mas também é possível achar comida boa. Uma dica para quem viajar: quando a fome apertar, tenha paciência e não se renda às opções de dentro dos parques. Elas são bem mais práticas, certamente, mas o melhor da comida da Disney está nos hotéis.
Ficamos hospedados no Four Seasons dentro de um condomínio de luxo onde a parafernália Disney se camufla em detalhes sutis como as gravuras penduradas nas paredes das áreas comuns – em que três círculos compõem uma cabeça de Mickey estilizada. É possivelmente o melhor hotel dentro de todo o complexo, e tem dois restaurantes (abertos a não-hóspedes) indicados na minha humilde lista. Vamos a ela.
1. PB&G
Meu restaurante favorito na viagem, tanto pela comida quanto pela simpatia do ambiente e do serviço. O lugar, uma cabana de madeira à margem do lago do Four Seasons, recebe hóspedes que vêm direto da piscina. Isso significa informalidade total no dress code (quase todos com chinelo de dedo). O cardápio traz clássicos das culinárias da Flórida e do Sul dos Estados Unidos em geral. A sessão de sanduíches é à prova de risco. O hambúrguer e o lobster roll (com salpicão de lagosta) agradam muito, mas o sandubão de pulled pork é o melhor de todos: o pão macio é recheado com carne de porco desfiada e imersa em um molho barbecue caseiro, feito com cerveja lager, mais picles feitos também lá mesmo. Os tacos de peixe também são ótimos. Serve ainda cervejas artesanais e coquetéis interessantes, como o Kentucky Mule (na foto acima, versão sulista do moscow mule, com ginger ale, limão e bourbon no lugar da vodca). Na sobremesa, a key lime pie (torta de limão galego) é a pedida mais tradicional da tradição floridense (aprendi o adjetivo aqui). Gostosa, mas nada surpreendente: é bem parecida com as tortas de limão daqui. Funciona apenas para o almoço, até as 18h.
2. Capa
No rooftop do Four Seasons, este restaurante elegante e caro sofre de dupla personalidade: vende-se tanto como espanhol (seu nome faz referência à capa do toureiro) quanto steakhouse, ou churrascaria. Se precisar escolher, vá de olhos fechados na carne. O menu lista três fornecedores distintos de cortes bovinos: um tradicional, com filé (foto acima) e contrafilé classificados como USDA Prime (com o grau máximo de marmoreio), um de gado alimentado exclusivamente com grama e outro que trabalha somete com bois da raça japonesa wagyu. A churrasqueira a lenha fica à vista dos clientes, com labaredas que tostam deliciosamente a superfície do bife – depois ele é transferido para uma grelha menos quente, para que cozinhe por dentro. A seleção de vinhos é fabulosa. Só abre para o jantar. Lá pelas 21h (o que é bem tarde para um jantar americano), os shows de fogos do Magic Kingdom e da Epcot vêm te lembrar de que você está na Disney.
Fica no alto do Disney's Contemporary Resort – um delírio arquitetônico futurista dos anos 1970, que hoje lembra uma pirâmide maia pintada de branco. Faz culinária moderna de inspiração californiana, com cardápio que varia de acordo com a estação. O raviolo gigante, recheado com queijo de cabra de Sonoma e imerso em um caldo leve de tomate, com fatias crocantes de cogumelo shitake por cima (foto acima), é fenomenal. O lugar é muito caro, e a mesa precisa ser reservada com dias de antecedência, às vezes semanas.
Parece e é uma típica arapuca para turistas, mas esqueça: você está na fucking Disney. Este restaurante/bar/casa de shows, filial de uma rede com 12 casas, fica bem na entrada de Disney Springs, área com lojas e outras atrações de shopping center ao ar livre. Se você, como eu, é do tipo que não gosta de bater perna para fazer compras, empaque por aqui enquanto sua companhia vai de loja em loja. Não tenho a menor ideia da qualidade da comida – o cardápio não anima –, mas a área externa do bar é o cenário perfeito para tomar algumas cervejas (como a IPA Jai Alai, da cidade de Tampa) em um dia quente, ao som de um blues tocado ao vivo.
5. Epcot
Se você precisar fazer sua refeição dentro de um parque, que o parque seja o Epcot. O setor do parque batizado de World Showcase tem pavilhões que imitam cenários de vários países. Tudo muito brega, mas vários restaurantes são bons. Os funcionários desses pavilhões são nativos do país que representam – o que não é garantia de qualidade, mas certamente é um indício de autenticidade nas preparações. São dezenas de opções de restaurantes, bares e lanchonetes típicos da Alemanha, da China, do Canadá, dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra, da Itália, do Japão, do Marrocos, do México e da Noruega. Comi um excelente tonkatsu (porco da raça berkshire à milanesa servido ao ponto, com abacaxi grelhado, salada de repolho e molho agridoce, foto acima) no Tokyo Dining. Como curiosidade, foi lá que eu experimentei o vinho japonês Château Mercian, um branco da variedade local koshu.